segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Há tantos fragmentos ofuscados na masmorra da alma nesse frágil castelo da vida encrustado no reino da existência. O primeiro tombo de bicicleta, festa de aniversário com balões e decoração de personagens fictícios, doces, correria, pulos, brincadeiras, os parabéns. O sanduiche na lancheira, os piques (esconde, pega), as palmadas e os abraços caloroso e eterno dos pais. As árvores e paisagens passando rapidamente em uma viajem na estrada, a família reunida no almoço de domingo, aquele cachorro que dormia ao seu lado. Os pesadelos, os jogos de futebol, as competições de natação, a hora do jantar (sem atrasos por favor). A partida do seu colega sem volta, a timidez com as meninas, o caiu no poço na rua do bar. As aventuras na mata, os dedos ensaguentados depois de chutar o asfalto numa brincadeira descalço, a tacada fatal do beti. O pé de jambo na porta de casa, o da mangueira na casa da vó, o quartinho arrumado e organizado com as ferramentas do avô.  A horta e o galinheiro. O clube do lado de casa. As brincadeiras na chuva, o primeiro soco na cara, o primeiro beijo seguido de um acanhado sorriso iluminado.A hora certa de voltar para casa. O primeiro “eu te amo” amando. O primeiro cd de rock, a primeira queda do muro ou da árvore. O aviso mortal da diretora da escola. “Vou ligar para os seus pés”. O coração acelerado e respiração ofegante quando a menina do olhos lindos vem para perto de ti. O boletim com nota vermelha....O dia em que seu amigo vai embora e vc não entende porque, e vários se vão e o porquê ainda sem solução. A adolescência longe dos pais, destemida, pulsante e tola. O porre de vinho depois da prova. O show com aquela galera de preto e estranha, mas estranhamente não te olha como estranho. As longas caminhadas rasgando a capital e rompendo as suas fronteiras. A dor do amor, o amor sem dor, e a mulher que nunca vais se esquecer. Os livros de cabeceira, a coleção de cd´s, as responsabilidades. A busca frenética pela auto-realização, imponência e respeito. A vez que seu amigo te deixou na mão, o medo e insegurança do desconhecido, o frio de uma noite de junho. O dia em que se olha no espelho e se acha hipócrita, impotente e lúgubre. E a vida vai tecendo o seu novelo implacavelmente, pessoas vão e vão outras ficam. Algumas dão tchau e outras tu é obrigado a dizer adeus.  As viagens rumo ao desconhecido, a natureza, e a contemplação. A tristeza resignada no peito, e a frequência de porres com o passar da idade. A intensidade das emoções e a frieza das atitudes. Os filmes, os signos, os autores, as músicas que marcaram.  No final das contas, somos na verdade, chagas e alegrias que marcamos no tempo, e não o contrário, como se parece. Somos o que devemos ser e o que queremos ser: Espíritos Aventureiros buscando preencher o rombo que a mudança provoca toda vez que sorrimos, choramos, lamentamos, aprendemos,  e  seguimos o nosso coração cada vez mais segmentado pela razão.

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