terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ossos do Ofício

Estava prostado em frente ao computador, havia um tempo considerável. Estava quente e abafado. Suava pelas têmporas em abundância, seus olhos corriam afoitos pelas teclas buscando formar e surgir palavras em sua exausta mente. Coçava a nuca, alongava e estalava as mãos e os dedos, limpava o suor da testa. Sua perna direita tremia incessamente. O quarto em que se encontrava não era dos melhores para se obter inspiração, entretanto, a clausura lhe trazia ébrios instantes de lucidez lívida que transformados em textos trouxeram-lhe bastante notoriedade. Contudo, isso é passado. Seus seguidores eram radicais e ávidos pela sua obra. A pressão crescia em medidas inversamente proporcionais a produção de seus textos. Eram de diversos conteúdos e de gêneros diversos, passeando por uma crônica romântica de casais apaixonados ou a uma crítica ácida de algum filme lançado sobre fadas, vampiros ou lobisomens. È nítido que é uma forma ingrata de se viver, pois não é todo dia que se escreve algo consistente e concreto, vários escrevem muito e não dizem nada, outros, em uma frase, quebram paradigmas verbais e comunicáveis. Eram exatos dois meses desde seu último post. E novamente ali, no seu habitat quase que ideal, quarto, computador, cadeira, cinzeiro, ele se sentia pesado e derrotado. Escrevera um monte de pensamentos, palavras, sensações, sentimentos que via a mente, finalmente. Porém, não se pode vangloriar desse ato: escrevia primeira com o coração e depois utilizava a razão para dar-lhe significado. Se a boca fala do que o coração transborda, o mesmo não poderia se dizer de escrever, ainda mais sobre as dores do mundo. Ainda estava quente e gotejava de suor, agonizava em sua inércia e improdutividade, coçava tanto a cabeça que já sentia a irritação. De súbito, lhe veio a mente fumar. Hábito horrendo, mas que lhe trazia um alívio imediato. Riscou o fósforo, acendeu, deu o primeiro trago, tirou os óculos, massageou os olhos, sentiu aquela sensação de bem estar e conforto e pensou: - Pronto, a hora é essa. Mas quando abrira os olhos a realidade nua e crua era como um navalha fria e afiada na jugular. Um trago, outro, mais um cigarro, escutava uma música e nada, simplesmente nada. Começou a entrar em desespero, palpitava, suava a frio, suas pupilas dilataram, olhava para as paredes, elas pareciam girar e tremer, como num desenho dos anos sessenta, sentiu o quarto se fechando cada vez mais, sua respiração disparou, queria fechar os olhos, mas não conseguia, o quarto fechava cada vez mais,  uma masmorra, pensava ele. Um grilhão nas pernas? Não sabia, não tinha idéia, nem luz, tão pouco saída, o quarto se fechava cada vez mais, como em um efeito. Teve um acesso de histeria e deu-se a grunhir e risadas abissais. Era o começo o fim. Teve um lampejo de lucidez e se recompôs. Calmamente as coisas iam voltando para o seu devido lugar. O quarto já não se fechava mais, tão pouco sentia aquela ansiedade explodindo no seu âmago. A respiração galgava em ritmo normal e compassado.
“Pronto, o turbilhão passou, foi só mais um acesso. Onde está os meus remédios ? Isso dá um ótimo post!” Pensou.
 Desembestou a escrever e a sorrir, acendeu mais um cigarro e o fluxo foi seguido naturalmente

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