quinta-feira, 30 de julho de 2009

16:05 28/07/2009


Há dois dias atrás, um triste capítulo foi escrito pelo destino nas páginas da minha vida e família. Minha vó, Dona bebete, bebeta, mãe da Dra. Glória, Esposa do saudoso Alfredo Duarte Lopez, partiu-se. Era para ser uma semana regrada a júbilo, gozo, risos, e alegria. Mas as coisas são como o são, e só as vezes como a gente planejou que fosse. Posso até tentar falar dela, mas meu irmão, Luiz Alfredo, magistralmente já fizeste. Desde do seu nascimento no exato 14/10/1921 até os nossos dias de hoje.
http://thenatureandnurture.blogspot.com/2009/07/dona-bebeta.html
Este é o link para quem quer dá uma olhada sobre a inesquecível Dona Bebeta.

No dia do seu falecimento, meu irmão e eu fomos no Hospital vê-la no horário de visitas. Das 14 as 15, logo após o termino, Deus (ou seja quem for) começou a levá-la a sentar ao seu lado, precisamente as 16:05.
Te digo com certeza absoluta que nunca amei ninguém como a amei. Amor brincalhão, ciumento até, e espontâneo. Sempre tentei ser digno de ser um grande neto, como agradecimento, pelo menos, de tudo o que a vózinha fez por mim e por todos que tiveram o privilégio de conhecê-la.
Adorava arrancar sorrisos largos dela, entretendo, divertindo, abraçando ou simplesmente beijando enquanto afagava o seu cabelo branco/cinza. Minha vó era uma missionária da fé. Orar, para ela, era o alimento, o fogo que todos carregamos dentro de nós, que nos dá aquela força invísivel, para aguentar as agouras do mundo. Por isso que ela rezava. Por ela, por deus, por todos. Rezava até por quem não conheço, que nunca vi, mas que em seu enterro, simplesmente agradecia me abraçando, dizendo que ela era uma santa. Os olhos e reação dessas pessoas ao ver a minha vó falecida, não as traía.
Adorava ver minha vó rezando, o seu ritual, os seus gestos, a sua concentração, a energia com que ela fazia aqueles cultos. Adorava ajudá-la a andar quando já não conseguia por si só, a pegar os seus remédios que ela esquecia na cozinha, pedindo com ternura e doçura que só ela era capaz de pedir. Sua memória para lembrar os aniversários era impressionante, lembrava de todo mundo que ela gostava. Aprendi isso com ela.
As músicas que ela cantava, as expressões regionais idiomáticas que ela falava ("Se o liga não me ligasse eu não ligava o liga, mas como o liga não me liga, eu contigo liga") as lágrimas que escorriam pelos olhos a notícia de falecimento de parentes distantes, as histórias que ela contava. O orgulho com que ela falava de sua família, irmãos, filhos, netos, bisneto, afilhados, para mim e paratodos. O ciúme que ela tinha da minha mãe, a dependência que ela tinha com ela, amor de mãe. A vózinha como voçê amava minha mãe..... Juro que tentarei manter o seu legado.

O amor que ela sentia pelo meu avô, era um show a parte, amor real, impossível até para os dias de hoje. Amor que Roberto Carlos canta em suas músicas. Amor mesmo, na real concepção da palavra e o que ela representar ao ser humano. Amor que co-existe com o tempo, e temperada com saudade, resulta no ápice dos sentimentos terrenos. Amor digno de coincidências curiosas: Os dois são do mesmo mês, faleceram no mesmo mês, e com a mesma idade.
Amor que ela mesmo me disse uma vez : "Eu amava o seu avô meu filho, amava tanto que até esquecia que tinha que me amar também"
Simples assim.
Bença vó. Obrigado.

No dia do falecimento, voltávamos para o interior , minha mãe, meu irmão e eu. No carro, naquele clima denso e sombrio, uma música que nunca tinha escutado, tocou a minha alma, mas precisamente o vocal melancólico do Jagger e o violão dissonante do Richards.




I watched you suffer a dull aching pain, now you decided to show me the same, no sweeping exits or offstage lines....
Could make me feel bitter or treat you unkind!

2 comentários:

Kleberson Santos disse...

Walter's,

Amar é um verbo que se pratica no tempo presente, para que possamos juntos, vivê-lo no futuro. Mas o passado não será capaz de apaguar seu amor pela sua vovozinha.

Seu texto me fez lembrar que um dia passarei por este mesmo episódio na vida.

Não sei como é a dor de perder um ente tão querido, mas se suas palavras foram suficiente para pelo menos "sugerir" tamanha dor, não sei se aguentaria saber o que você está passando.

Mas sei que você é um homem de bom coração e forte. Sei que você é capaz de vencer, como já é um campeão.

Forças,

Fé,

Oração!


Há momentos que esquecemos que existimos, para que alguém seja o centro de nossa vida.

Abraços!

Força!

De seu eterno amigo!

Gustavo disse...

seu talento me tira as palavras pra comentar, vc escreve bem demais velho! só tenho que te agradecer por isso e desejar força pra que a vida não lhe seja um fardo, vc merece viver sempre em harmonia. abrass x)